Não faltam pareceres para definir o melhor conceito de pai e mãe na arte de educar.
Felizmente começam a rarear os progenitores que, sem darem conta, caiem na tentação de educar os seus filhos segundo as suas pretensões e ambições, ignorando as necessidades intrínsecas de cada um. Ou seja, esperam de seus filhos o que eles mesmo desejavam quando jovens e que, por alguma razão, não conseguiram. Como resultado, condicionam os filhos a estudar por anos e anos o que não gostam e, consequentemente, abraçar uma carreira profissional que não foi a sua escolha.
Outra dificuldade de alguns pais, que os impede de exercer uma ação educativa equilibrada e construtiva, é a preocupação constante com as opiniões que os outros vão formar dos seus filhos. E por pequenos erros que cometam, tornam-se irritados e exigentes, recorrendo até ao castigo mesmo na presença de pessoas conhecidas, o que leva ao sentimento de humilhação, tantas vezes responsáveis por traumas que mais tarde se vêm a manifestar.
Uma outra postura de alguns pais, numa família com mais de um filho, é não se conformarem com as notas abaixo das expetativas por eles criadas, enquanto o outro filho consegue melhores notas. Ao manifestarem o aborrecimento comparam as notas um com o outro de forma que um deles se sente diminuído, o mesmo se passando quanto ao comportamento e carácter das crianças. Por consequência, podem cair no que referi noutra crónica por mim escrita neste jornal: Não sais ao teu irmão”; “Ele, sim, é inteligente”; “Não sei a quem tu sais”; “Desiludes-me constantemente”; etc., etc.
Nada é mais destruidor da autoestima que a crítica negativa e comparações com outras crianças.
Para além disto, há pais que, face ao menos bom desempenho de um dos filhos na escola, levam-no ao médico dizendo que a professora se queixa que ele não está concentrado nas aulas, ou é muito irrequieto, etc., etc.., de cuja consulta poderá sair o conhecido diagnóstico: TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), dando, por isso, oportunidade de entrar em ação os já cognominados “monstros da infância” e “pílulas da boa nota” chamados – Ritalina e Concerta.
Passado algum tempo, esses mesmos pais ficam dececionados com o filho, pois não compreendem o motivo por que é tão tímido, tão medroso, tão inseguro, com tão baixa autoestima, ou porque é tão revoltado em casa.
E o que não entendem é que foram eles mesmos, com os seus métodos de educação, que incutiram o medo, a desconfiança, a ansiedade e a revolta nesse filho, tantas vezes acrescidos pela desarmonia familiar protagonizada por eles próprios. Como se estes métodos, por si só, já não fossem catastróficos em termos educacionais, agravam o mau comportamento das crianças com a falta de compreensão, com a impaciência e exigências demasiadas.
E que comportamentos poderão advir de todo este imbróglio psicológico que esta criança está sujeita? A que se deve, por vezes, a falta de concentração, irritabilidade e outros comportamentos inconvenientes? Por que será que há nestas crianças as que estudam, estudam e não conseguem ter boas notas? Por que será que estas crianças não têm motivação para estudar? Por que será que à medida que se aproxima o fim de tarde de domingo estas crianças começam a perder o bom humor? As perguntas não acabariam aqui.
A muitas destas crianças se perguntarmos o que mais gostam da escola, não é, certamente, o prazer de estudar, mas da hora do recreio ou do toque da campainha para a saída.
É com Ritalina ou Concerta que se resolve? Garantidamente: NÃO!
Estes psicoestimulantes contêm metilfenidato, e, de acordo com as conhecidas contraindicações, os efeitos colaterais que surgem a curto prazo, prevalecem a redução de apetite, insônia, cefaleia e dor abdominal, sendo a maioria autolimitada, dose-dependente e de média intensidade. Dentre aqueles em longo prazo, são descritas alterações discretas de pressão arterial e frequência cardíaca e uma possível discreta diminuição da estatura.
É claro, estimados pais, que tenho a certeza que não é isso que, conscientemente e inconscientemente, desejam para os vossos filhos.
Felizmente que há outro tipo de educação ministrada por pais com outra atitude no que concerne aos métodos educacionais dos seus filhos.
Pais que têm a consciência viva de que os filhos não pediram para nascer. Pais que promovem a harmonia e a partilha familiar onde a criança é parte integrante ativa, e onde se incute a segurança e a importância do meio ambiente emocional, enquadrado numa educação segura, responsável, disciplinada e com muito amor. Num lar onde sobra sempre tempo para mostrar-lhes, por palavras e atos, o quanto os amamos.
E, já agora, se conhece algum dos pais distraídos na educação dos seus próprios filhos, por favor, lembre-lhe o milagre que ele pode operar na vida dessas crianças se lhes der, todos os dias um abraço, lhes fizer um carinho ou lhes disser o quanto os ama. E se esse pai lhe disser que não têm tempo, diga-lhe que lhes dispense, apenas, um minuto, pois, talvez, as crianças o guardarão para toda a vida. É tanto simples!
Pense nisto!
José Moreira
Presidente da Direção da Lapidar